[Tenho saudades de fotografar]
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[My lovely sister]
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Amanheceu há pouco.
São 8horas da manha, um pouco mais talvez. Ela voltou muitas vezes aquela casa de banho. Nervosa, ansiosa, mais nervosa; mãos suadas. Também havia ansiedade. Ela cuidou-se na noite anterior; procurou a melhor indumentária; vestiu o casaco preferido que a avó lhe tinha dado. Os ganchos que lhe apanham o cabelo foram postos pelas amigas, na galhofa, na risada infantil. A noite foi agitada, longa, muito longa. E ela sempre à espera. Com a sua melhor roupa de noites de Inverno: as collants roxas compradas de propósito para a ocasião, a saia cor de vinho em veludo da amiga Maria, o repetido casaco vintage com plumas trazidas pela repetida avó e as luvas compridas porque estava frio ontem. Ah! E o repetido cabelo penteado pelas amigas solidárias. Ela esperou. Esperou muito. Esperou como nunca foi possível alguém esperar. Ela esgotou o verbo esperar. As mãos suavam. O rosto ia corando, às vezes demais pela fúria, outras pelas lágrimas que ganhavam vida. E ela continuava a esperar. Estávamos em 90’s e esperava-se por tudo, ora pela internet pelo fio do telefone, pelo fim da guerra em Angola, pelas viagens low-cost, por uma moeda única. Espera-se enquanto dinheiro era deitado ao chão.
Tal como ela viu fazerem durante toda a noite. Enquanto ela esperava, havia, impacientemente, quem tirasse notas para o chão a reclamar um alívio urinário. Foram deitando; juntamente com caricas, preservativos, coisas da noite.
E ele ali. Perdido de amores. Sozinho na sua busca. Com a sua melhor roupa – as calças riscadas pretas, o blazer comprido feito à medida pelo alfaiate da tia. Ele até pós o seu chapéu da sorte. A centímetros e ela a esperar por algo que julgava a quilómetros. E ele ali.
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Está uma manhã solarenga. O sol brilha lá fora; há-de ser uma manhã de Abril ou de Maio; sim, é um dia de Primavera. Se a foto tivesse sido tirada um minuto antes, Richard Avedon teria, provavelmente, apanhado um passarinho amarelo a espreitar à janela.
Dorian Leigh é a modelo na fotografia. Ela começou a preparar-se há um minuto atrás; na altura, ela era uma jovem norte-americana com um chapéu Paulette. Ela foi uma das primeiras topmodels e com certeza, uma das musas de Richard Avedon. Eles estavam em 1949 e a Segunda Grande Guerra tinha acabado apenas há quatro anos atrás; depois de Christian Dior ter criado o New Look em 1947, as primeiras páginas das revistas de moda tinham todas o mesmo coordenado.
Neste fotografia, Dorian Leigh limita-se a confirmar a moda. Não. Na imagem, ela está estranhamente marota. Se há uma espécie de medo engraçado, então, Dorian está a sentir esse sentimento neste momento; mas ela está com medo de falhar a sua maquilhagem; um movimento um pouco mais brusco e todo o arranjo pode ficar estragado; e nenhuma maquilhagem pode ficar estragada numa manhã de sol.
Ela tem um casaco preto, talvez Dior, talvez Chanel. Os ombros parecem maiores do que são na realidade e ela parece pequena e magrinha. Ela parece a Audrey Hephurn por causa do nariz; o pequeno e arrebitado nariz que tanto caracteriza a actriz; mas não é tudo; o cabelo curto é parecido. A pequenina franja tem alguns cabelos desalinhados ou apenas não penteados.
As joías combinam com o look simples, branco e clássico. O colar e os brincos são da mesma família e para ser sincera, todo o look parece falar a mesma língua e podemos facilmente adivinhar o que ela poderá ter vestido além do casaco. O que será? Uma saia preta pelo joelho? E a roupa interior?
Independentemente do conjunto, há algo que nos faz olhar duas vezes para o chapéu, chegando quase à gargalhada. O chapéu. O chapéu de coelho de Dorian Leigh lembra, nos dias de hoje, as meninas da Playboy e é o pormenor mais atractivo da fotografia; o chapéu não interliga com o look do modelo, mas sim com a sua cara. Ela tem uma expressão infantil e a língua de fora faz lembrar quando as crianças têm medo ou dificuldade em fazer qualquer coisa. Então, agora, voltamos ao início, ela é uma rapariga marota com roupas caras. Aqui, Dorian Leigh é simultaneamente uma menina bonita com um estilo clássico mas também uma mulher engraçada que se tenta integrar na alta sociedade: maquilhando, vestindo, andando e falando como as mulheres mais velhas. Último pormenor que confirma esta história da “Pretty Woman” dos anos cinquenta: a desarrumação que ela tem perto dela, as caixas de acessórios, joías ou maquilhagem; pode ser um presente do seu amante, e ela está a experimentar tudo o que ele lhe deu; depois de uma noite calorosa juntos, está uma manhã solarenga e o amante de Dorian Leigh deu-lhe presentes para ela os experimentar quando acordasse.
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